sábado, 2 de setembro de 2017

A verdadeira Religião nunca apela à guerra

Por David Langness.


Uma amiga minha perguntou-me uma vez: "Como é que distingues uma religião verdadeira de uma falsa?" Tive que pensar um pouco na resposta.

E depois de pensar durante alguns dias, respondi-lhe: "As verdadeiras religiões pedem sempre a paz. Se alguém quer guerra – seja um indivíduo, uma organização, ou uma nação – então isso é uma falsa religião. Deus não quer a guerra".

A minha amiga adorou esta definição, mas não conseguia acreditar nela. Expliquei-lhe que era uma explicação dos ensinamentos Bahá'ís:
... a guerra é destruição, enquanto a paz universal é a construção; A guerra é a morte enquanto a paz é a vida; a guerra é a rapacidade e a sede de sangue, enquanto a paz é a beneficência e a humanidade; a guerra é uma pertença do mundo da natureza, enquanto a paz é a base da religião de Deus; a guerra são trevas sobre trevas, enquanto a paz é luz celestial; a guerra é o destruidor do edifício da humanidade, enquanto a paz é a vida eterna do mundo da humanidade; a guerra é como um lobo devorador, enquanto a paz é como os anjos do céu; a guerra é a luta pela existência, enquanto a paz é a ajuda mútua e a cooperação entre os povos do mundo e o motivo do bom-agrado do Verdadeiro no reino celestial. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #227)
"A paz", escreveu ‘Abdu’l-Bahá, é "a base da religião de Deus". Apesar de sabermos que os seguidores das religiões do passado nem sempre agiram pacificamente, também sabemos que os ensinamentos originais da maioria das grandes religiões do mundo aconselharam os fiéis a dar a outra face; para dominar os nossos instintos violentos; para estar em paz com todas as pessoas; para ser, e fazer, o bem no mundo.

Os textos de Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá falam abertamente sobre a paz universal e o caminho a seguir para a alcançar. Na verdade, os ensinamentos Bahá’ís dizem claramente que Bahá’u’lláh trouxe uma nova mensagem de paz para o mundo, enfatizando a não-violência, a desmilitarização e um sistema global de governação - tudo em nome do estabelecimento de um sistema que elimine a guerra de forma universal e permanente:
O Sol da Verdade surgiu no horizonte deste mundo e lançou os seus raios de orientação. A graça eterna é ininterrupta, e um fruto dessa graça eterna é a paz universal. Tende a certeza que, nesta era do espírito, o Reino da Paz levantará o seu tabernáculo nos cumes do mundo, e os mandamentos do Príncipe da Paz dominarão plenamente as artérias e os nervos de todos os povos, para atrair para a Sua sombra protectora todas as nações na terra. (Idem, #201)
Quem procurar nas escrituras de Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá, perceberá que eles deram muita atenção à paz e à sua realização. Em Outubro de 1914, por exemplo, após o início da Primeira Guerra Mundial, ‘Abdu’l-Bahá escreveu uma poderosa carta anti-guerra para uma Bahá’í britânica chamado Beatrice Irwin, de Londres. Actriz, inventora, autora, viajante e conhecida poetisa, Irwin escreveu pela primeira vez a ‘Abdu’l-Bahá sobre a queda da Europa nos campos de batalha antes do início da guerra nos Balcãs.

‘Abdu’l-Bahá iniciou a sua famosa resposta a Beatrice Irwin com as seguintes palavras:
Ó filha amada! A tua carta foi recebida e por tua causa escrevi esta Mensagem. Este artigo, em resposta à tua questão, é muito importante. Faz o maior esforço para a sua publicação. (Star of the West, Volume 4, p. 243)
Depois parece que ‘Abdu’l-Bahá escreveu a sua carta para Beatrice Irwin como mais do que uma simples carta - pediu-lhe para fazer " o maior esforço" para encontrar quem publicasse o seu importante artigo.

O Seu texto começa assim, com alguma história pessoal e um grave aviso:
Após a proclamação do regime constitucional no turco em 1908, pelos membros do Comissão para a União e Progresso, este prisioneiro de quarenta anos [‘Abdu’l-Bahá refere-se a si próprio], andou e viajou durante três anos - de 1910 a 1913 - pelos países da Europa e pelo vasto continente da América. Não obstante a idade avançada com as suas consequências naturais, com uma voz sonora, fiz intervenções detalhadas perante grandes convenções e em igrejas históricas. Enumerei todos aqueles princípios contidos nas Epístolas e Ensinamentos de Bahá’u’lláh sobre Guerra e Paz.

Há cerca de cinquenta anos atrás, Sua Santidade Bahá’u’lláh proclamou certos Ensinamentos e fez ouvir o Cântico da Paz Universal. Em inúmeros textos e diversas Epístolas, Ele pressagiou, na linguagem mais explícita, os actuais eventos cataclísmicos, afirmando que o mundo da humanidade estava a enfrentar o perigo mais poderoso e declarando categoricamente que a realização da Guerra Universal era, infelizmente, inevitável e inescapável. Pois os materiais combustíveis que foram armazenados nos arsenais infernais da Europa explodirão por contacto com uma faísca. Entre outras coisas, "os Balcãs tornar-se-ão um vulcão e o mapa da Europa será alterado". Por estas razões e outras semelhantes, Ele (Bahá’u’lláh) convidou o mundo da humanidade para a Paz Universal. Ele escreveu uma série de Epístolas aos reis e governantes e, nessas epístolas, explicou os males destrutivos da guerra e alongou-se sobre os sólidos benefícios e as nobres influências da Paz Universal. A guerra desfaz os alicerces da humanidade; matar é um crime imperdoável contra Deus, pois o homem é um edifício construído pela Mão do Omnipotente. A paz é a vida encarnada; a guerra é a morte personificada. A paz é o espírito divino; a guerra é uma sugestão satânica. A paz é a luz do mundo; a guerra são as trevas estigeanas e a escuridão ciméria. Todos os grandes profetas, antigos filósofos e Livros celestiais têm sido os precursores da paz e monitores contra a guerra e a discórdia. Este é o fundamento Divino; esta é a efusão celestial; esta é a base de todas as religiões de Deus. (Idem, Pp. 243-244)

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Texto original: True Religion Never Calls for War (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

1 comentário:

Lourdes Hernandez disse...

Muito esclarecedor e profundo. Há muito que se realizar no campo do serviço, com coragem e fé!