sábado, 3 de outubro de 2015

Aceitar a Fé Bahá’í é trair Jesus?

Por David Langness.


... a imitação cega do passado inibe o desenvolvimento da mente. Mas quando cada alma investigar a verdade, a sociedade ver-se-á livre das trevas da repetição contínua do passado. (’Abdu’l-Baha, Selections from the Writings of ’Abdu’l-Baha, #202)

… a imitação cega entorpece os sentidos do homem, e quando se fizer uma pesquisa irrestrita da verdade, o mundo da humanidade será libertado dos grilhões da imitação cega. (’Abdu’l-Bahá, Letter to Martha Root.)

... imitações cegas e preconceitos hereditários tornaram-se invariavelmente causa de azedume e ódio e encheram o mundo com escuridão e violência da guerra. Por isso devemos procurar a verdade fundamental para nos libertarmos dessas condições e depois, com rostos iluminados, procurar o caminho para o Reino de Deus. (’Abdu’l-Bahá, Baha'i World Faith, p. 239)
Quando conheci a Mary, falámos do medo que surge quando mudamos as nossas crenças mais profundas. Tendo nascido numa família católica, ela desenvolveu desde a infância um amor por Jesus que ainda sente; suspeito que ela tem medo que “mudar de religião” seja uma traição a esse amor.

Não tive a oportunidade de falar muito mais com ela. Por isso vou abordar esse assunto aqui.

Se perguntarmos a alguém porque segue uma determinada religião ou sistema de crenças, a maioria das pessoas dirá que o faz porque a herdou. Os seus pais e os seus antepassados transmitiram-lhe essas crenças. Provavelmente foi educado(a) em criança para seguir a Fé dos seus pais e avós. E seguiu. E quando crescia percebeu a beleza dessa Fé, tentou compreendê-la e seguir os seus ensinamentos, e desenvolveu a sua identidade com base nessa perspectiva específica sobre o mundo. Se os seus pais não seguiam qualquer Fé, provavelmente também seguiu esse caminho.

Em qualquer dos casos, as suas crenças mais profundas podem estar incorrectas. Podem não lhe pertencer. Podem ser imitações cegas. Se não as questionou desde cedo, se não examinou verdadeiramente a sua realidade espiritual mais profunda, então talvez queira procurar uma verdade profunda começando por questionar aquilo que há muito tempo imita cegamente.

Quando os ensinamentos Bahá'ís nos apelam para evitarmos imitar cegamente os outros, também nos pedem que examinemos os nossos sistemas de crenças mais profundas. Mas em vez de seguir um conjunto de imitações de princípios e crenças, porque não procurar o original? Um dos principais princípios da Fé Bahá’í - a investigação independente da verdade - pede-nos que não nos fiemos nas percepções e opiniões de outros, mas que procuremos as nossas próprias crenças:
O homem deve ser justo. Devemos pôr de lado ideias pré-concebidas e preconceitos. Devemos abandonar as imitações dos avós e dos antepassados. Nós próprios devemos investigar a realidade e ser honestos nos nossos juízos. ('Abdu’l-Baha, The Promulgation of Universal Peace, p. 346)
Essa justiça e honestidade significa que os Bahá’ís seguem todos os profetas de Deus. Os Bahá’ís acreditam no amor e veneram os profetas e fundadores das grandes religiões mundiais: Abraão, Moisés, Krishna, Buda, Zoroastro, Jesus Cristo, Maomé e agora, Bahá’u’lláh. Tornar-se Bahá’í não significa que estamos a rejeitar uma religião anterior. Os Bahá’ís não descartam as suas anteriores religiões; apenas as entendem sobre uma nova perspectiva - como parte integrante da unicidade da religião. Para um Bahá’í, a realidade fundamental da religião é uma e não múltipla.

Na verdade, ser Bahá’í, significa ser seguidor da luz e não da lâmpada:
... as religiões divinas dos santos Manifestantes de Deus são, na realidade, a mesma, embora sejam designadas por nomes diferentes. O homem deve ser amante da luz, não importa em que fonte ela apareça. Ele deve ser amante da rosa, não importa em que solo ela cresça. Ele deve ser um pesquisador da verdade, não importa de que fonte ela venha. O apego à lâmpada não significa amor à luz. (‘Abdu’l-Baha, The Promulgation of Universal Peace, p. 151)
Assim, expliquei à minha amiga Mary que ela não tinha nada a recear. Quando alguém se torna Bahá’í não está a rejeitar a sua antiga religião ou o seu profeta; na verdade, está a aceitá-la e simultaneamente a alargar o âmbito das suas crenças, englobando ensinamentos e sabedoria de todas as religiões:
Ó tu que procuras a verdade! O mundo do Reino é um só mundo. A única diferença é que a primavera regressa vezes sem conta, e dá início a uma nova e grande agitação que afecta todas as coisas criadas. Depois, a planície e a colina ressuscitam; as árvores vestem-se de verde delicado; e as folhas, as flores e os frutos manifestam-se em beleza terna e infinita. Assim, as revelações das eras passadas estão intimamente ligadas com as que lhes sucederam; na realidade, são uma só, mas, à medida que o mundo cresce, o mesmo ocorre com a luz, com as chuvas das graças celestiais, e então o sol brilha no seu esplendor do meio-dia. (‘Abdu’l-Baha, Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #29)
Os Bahá'ís não negam qualquer dos mensageiros de Deus, porque cada um representa o regresso prometido da mensagem de Deus. Ligados como uma corrente eterna de educadores divinos, os profetas e os fundadores das grandes religiões do mundo personificam um único sistema espiritual:
Vamos compreender o que constitui a realidade das religiões divinas. Se um cristão põe de lado as formas tradicionais e a imitação cega de cerimoniais, e investiga a realidade dos evangelhos, ele descobrirá que os princípios fundamentais dos ensinamentos de Sua Santidade Cristo eram misericórdia, o amor, o companheirismo, a benevolência, altruísmo, o esplendor ou brilho das dádivas divinas, a obtenção dos sopros do Espírito Santo e unidade com Deus. ('Abdu'l-Baha, Foundations of World Unity, p. 105)
Por isso, Mary, aceitar a Fé Baha'i não é trair Jesus; pelo contrário, é reconhecer a verdadeira realidade de Cristo.
É claro e evidente para ti que todos os Profetas são os Templos da Causa de Deus, que apareceram adornados com trajes diversificados. Se quiseres observar com olhos discernentes, verás que todos estão no mesmo tabernáculo, voam alto no mesmo céu, sentam-Se no mesmo trono, proferem o mesmo discurso, e proclamam a mesma fé. (Bahá'u'lláh, Selecção dos Escritos de Bahá'u'lláh, sec. XXII)

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Texto original: Does Becoming a Baha’i Betray Jesus? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA

3 comentários:

Anónimo disse...

Maravilhoso texto

filosofo disse...

O que compreendem por "luz"?

Marco Oliveira disse...

Penso que a sua questão não tem a ver com o significado da palavra, mas com o sentido em que ela é utilizada.
As palavras “luz” e “lâmpada” são usadas na literatura Bahá’í para fazer a analogia com ensinamentos espirituais e formas exteriores (rituais, dogmas e hierarquias) da religião.
Assim, ao dizer-se que devemos “ser seguidores da luz e não da lâmpada” estamos a dizer que devemos seguir os ensinamentos espirituais de uma religião, e não sermos meros seguidores das suas formas exteriores.